sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Crônica












PROCURA-SE

UM AMIGO








VINÍCIUS DE MORAIS,
Rio de Janeiro - RJ.
in memorian

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.

Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeita a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância.

Precisa-se de um amigo para não se enloquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.

Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Reflexão








ESPORTE
COMPETITIVO





ELCIO MARQUES,
Belo Horizonte - MG.

Desde que virou um negócio, o esporte complicou a saúde de muitas pessoas. Distorceu-se o conceito de que está ligado unicamente à saúde.

"Se considerarmos as estatísticas de lesões e problemas físicos, a maioria deles no próprio aparelho locomotor, os indivíduos que praticam esporte competitivo têm uma incidência muito maior. Pior do que isso é que, na terceira idade, eles carregam seqüelas que se distanciam muito do conceito de vida saudável. (...) Na realidade, a principal razão para isso ser verdadeiro é que quando o objetivo é a competição, claramente não se busca saúde. A busca é por dinheiro. E é isso que faz com que se tornem necessárias sérias concessões em termos de saúde".

Quem disse isso foi o fisiologista e coordenador do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (CEMAFE) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Turíbio Leite de Barros.

Vale tudo para conseguir um contrato milionário, palestras, publicidade, direitos de transmissão... e a saúde que se dane!

Para conseguir uma medalha, o excesso exigido do organismo de atleta chega às raias do absurdo! É uma característica geral do esporte competitivo e acontece somente nesse ambiente onde o que vale mais é "ultrapassar os limites existentes".

A atividade física intensa modifica a fisiologia do organismo de uma forma completamente diferente da atividade moderada. O excesso de atividade física e a restrição alimentar que o treinamento normal exige terminam por suprimir a função reprodutiva - 25% das meninas atletas não mestruam (comparado com 2 a 5% das adolescentes em geral que não menstruam, o número é significativamente elevado).

Os níveis de estrógeno e progesterona se alteram, o que pode levar os ossos das meninas a enfraquecer. Os atletas homens, por sua vez, também têm complicações pelo excesso de exercício físico, embora curiosamente menos estudadas e mais facilmente reversíveis.

Ciclistas, por exemplo, têm a motilidade do espermatozóide comprometida pelo estresse mecânico do banco da bicicleta. Em geral, os homens atletas também podem apresentar enfraquecimento ósseo como as meninas, mas por outra via relacionada a menor produção de testosterona que o excesso de atividade traz.

Como é do conhecimento atual, sabemos que alguns atletas chegam a fazer uso de drogas (doping) no afã de superar sua própria capacidade física e romper limites, e é deste modo irresponsável e consciente, que põem em risco a saúde e até mesmo a vida.

Esporte competitivo é profissão, dor, dedicação, estresse, desgaste físico e emocional. "A dor faz parte do meu uniforme", dizia o jogador de basquete Oscar, ídolo nacional e um dos mais respeitados atletas de todos os tempos.

Tal situação nada tem a ver com melhoria da qualidade de vida. Vivemos a "era da cultura do corpo físico perfeito", cuja busca muitas vezes esconde interesses inconfessáveis. Trata-se de lamentável materialismo, oposto à educação do espírito.

Quais serão as conseqüências espirituais para este abuso do corpo físico, para esta busca desenfreada do auge olímpico a qualquer custo? Que deduções tiramos da vida?

Olhares








VER ...
VENDO




LOURIVAL MARTINS,
Florianópolis - SC.

De tanto ver, nós banalizamos o olhar; vemos, não vendo. Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é.

O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que você está vendo no caminho, você não sabe.

De tanto ver, você banaliza o olhar. O hábito nos suja os olhos e baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver: bichos, gente, coisas. E nós vemos? Não, não vemos!

Uma criança vê o que o adulto não vê. Ela tem olhos atentos e limpos para os espetáculos do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê.

Há pai que raramente vê seu próprio filho. Marido que nunca viu a mulher.

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. E é exatamente por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Religião












FAÇA DA FÉ
RACIONAL O
SEU CAMINHO
PARA DEUS





J. J. TORRES,
Brasília - DF.

O movimento espírita brasileiro comporta um sem número de "correntes" tão confusas quanto incipientes de veracidade filosófica e científica. Tem corrente de toda denominação: ubaldista, roustainguista, emmanuelista, chiquista, divaldista, evangelista, ecumênica, receitista, apômetra, esotérica e pacifista. E muito mais!

Quem se meteu com os reformistas, na década dos anos 90, apenas testemunhou o surgimento e o desaparecimento de mais uma idéia pretensiosa de um jornalista espírita luterano conhecido como José Queid.

Atenta a essas "correntes", sempre busquei respaldo para o meu pobre saber e conhecimento doutrinário espírita nas Obras Básicas organizadas por Allan Kardec. Nunca me deixei influenciar por nenhuma dessas novidades que aparecem e desaparecem por encanto do nosso meio.

Fiz da leitura sistemática de O LIVRO DOS ESPÍRITOS e O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, além de obras complementares de autores conceituados e acima de qualquer suspeita mistificadora, o meu alimento intelectual para entender sensata e racionalmente O QUE É ESPIRITISMO na sua essência.

Os seguidores dessas "correntes" são inquietos, querem provar a todo custo que sabem o Caminho, a Verdade e a Vida que Jesus deixou pontificado em seus ensinamentos morais.

Andei em muitas instituições espíritas do Distrito Federal. Deparei-me com muitas instituições sérias e devotadas ao bem comum de suas comunidades. Vi homens e mulheres passando-se por espíritas, mas almejando tão-somente fazer proselitismo e aparecer como "missionários". A maioria deles sem lastro ético e moral para convencer pelo exemplo seus "seguidores".

Sugiro, portanto, que façamos uso do estudo sério, disciplinado e prazeroso o mecanismo mais seguro para aprender o que realmente seja Espiritismo. Sem esquecer, obviamente, da REVISTA ESPÍRITA, editada por Kardec, e que poucos espíritas se dão o trabalho de ao menos folhear.

Faça da fé racional o seu caminho para Deus, sem comprometer-se com as "correntes ideológicas" do mundo. Os falso líderes e profetas soberbos estão por toda parte. Estude e renove-se moral e espiritualmente para o futuro.

Siga o sinal verde de sua consciência!

Orientação










UM GUIA
DE
ÉTICA
ESPÍRITA






MARCELO HENRIQUE,
São José - SC.

Na chamada Era da Ética, imperioso investir em um instrumento que possa representar o compromisso de sua efetivação e a participação coletiva: um Guia da Ética. As diversas instituições públicas e privadas de nossa era deveriam investir verdadeiramente na disseminação desta idéia e, na seqüência, em sua aplicação prática.

A Ética, neste sentido, deve ser aplicada tanto na gestão interna quanto nas relações externas, permitindo, ainda, a necessária revisão, de tempos em tempos, dos padrões adotados, já que a norma não pode estar calcada sobre bases de imutabilidade i impossitividade.

Na instituição espírita não poderia ser diferente. Alguns valores são considerados primordiais para integrar o chamado Códio de Ética: educação; liberdade; igualdade; desenvolvimento pessoal e coletivo; satisfação; compromisso e responsabilidade social.

Em primeiro plano, a instituição deve se voltar para o público-alvo a que se destina, isto é, o contingente de pessoas que comparecem às reuniões; na seqüência, tendo em vista que a mensagem espírita se dirige à Sociedade como um todo, deve aplicar, em suas relações no meio externo, os mesmos parâmetros e princípios que entenda primordiais e essenciais à sua existência.

Ao divulgar o conteúdo espírita, por qualquer dos meios e veículos existentes, a instituição deverá contribuir para a formação integral do ser (Espírito), colocando-se, sempre que possível, no lugar do destinatário da informação.

O público leitor e expectador, portanto, atuará, em contrapartida, como o maior fiscalizador do cumprimento daquela, de modo crítico e consciente, desde que suficientemente incentivado e apoiado neste mister.

O resultado, cremos, importará na formação de indivíduos mais espiritualizados, graças à disseminação de uma cultura de ética e responsabilidade em nossa Sociedade.

Falando Sério
















SEJA O NOSSO LIVRE PENSAR ÉTICO E EQUILIBRADO


CARMEM BARROS
João Pessoa - PB

Com tantas questões sócio-educativas para serem pensadas e repensadas, analisadas e debatidas à luz do bom senso espírita, por que ainda nos entregamos à retórica da maledicência escandalosa?

Entendemos o pensamento e a linguagem como instrumentos valiosos na construção do Homem Integral. São instrumentos de afirmação dos seus direitos e de suas conquistas éticas, morais, intelectuais e espirituais.

Tudo isso, no entanto, exigirá do Espírito humano serenidade e equilíbrio no pensar, no falar e no esforço na construção de uma ética também integral. Sem respeito incondicional às pessoas, sejam elas conceituadas ou não perante a sociedade, esbarramos na obscuridade de um discurso hipócrita e incoerente com os ensinamentos morais de Jesus.

Nesse ponto, a nossa verdade mascarada dá lugar à mentira mantida por nosso obcecado e doentio orgulho de espíritas despeitados com companheiros que ainda enxergamos com olhares preconceituosos.