
A FESTA ONDE O POVO BRASILEIRO
AFOGA SUAS FRUSTRAÇÕES
E ESQUECE SEUS PROBLEMAS
MORAIS E ESPIRITUAISSAULO AURELIO ROCHA
João Pessoa - PB.
Quem nesta vidinha terrena tão provada e expiada não brincou o seu carnavalzinho? O gosto pela festa inquietante, luxuriante e embriagadora do Rei Momo passa de pai para filho.
Por enquanto, é uma manifestação popular e folclórica que a sociedade humana vê como uma "brincadeira" mesmo que ela sempre acabe em intoxicações alcoólicas, uso de drogas ilícitas, brigas, prisões e até mortes.
O carnaval nas décadas dos anos 50, 60 e 70 era mais recatado e até "familiar". A droga da moda era a lança-perfume e os desfiles eram feitos em carros de passeio por ruas e avenidas do centro da cidade.
As marchinhas não tinham letras tão chulas e de duplo sentido como as de hoje. Eram românticas e gostosas de cantar nos salões dos clubes que promoviam seus "bailes especiais" sob o som de uma orquestra bem afinada.
Com o advento dos grandes desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, São Paulo e dos trios elétricos sonorizados da Bahia, o carnaval do século 21 distanciou-se cada vez mais dos carnavais lúdicos e familiares do passado.
Transformou-se em negócio lucrativo para uns poucos oportunistas e exploradores da ingenuidade de quem acredita seja o carnaval uma simples "brincadeira". Tem muita rica com a festa de Momo.
Por outro lado, uma multidão de homens e mulheres vive disputando quem vai ser a "rainha mais nua da bateria" o "destaque mais cheio de plumas e paetês" e o "casal porta-bandeira nota dez". Enquanto outros pagam uma fortuna por abadás para correr "atrás do trio elétrico" protegidos apenas por grossas cordas de isolamento.
Segundo o meu amigo de fé e camarada, Carlos Barros, "carnaval é uma festa que entorpece os sentidos do Espírito e aguça os instintos da animalidade humana, transformando homens e mulheres em fantoches de sua própria insensatez".
Cada um transveste-se na fantasia que o seu estado moral e espiritual declina.
Ainda bem que agora os espíritas, os católicos e os evangélicos (ex-foliões) estão promovendo retiros, encontros e confraternizações para quem não gosta de carnaval. As opções são muitas e os preços compatíveis com o recurso de cada um.
Com o tempo, o carnaval há de dar o seu último suspiro. Como já provocou o último suspiro de muita gente que "morreu sambando", "pulando aquele frevo rasgado" na avenida.
Não vai fazer falta. Pelo menos para mim que nunca vivi nem sobrevivi do carnaval.