sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Olhares








VER ...
VENDO




LOURIVAL MARTINS,
Florianópolis - SC.

De tanto ver, nós banalizamos o olhar; vemos, não vendo. Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é.

O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que você está vendo no caminho, você não sabe.

De tanto ver, você banaliza o olhar. O hábito nos suja os olhos e baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver: bichos, gente, coisas. E nós vemos? Não, não vemos!

Uma criança vê o que o adulto não vê. Ela tem olhos atentos e limpos para os espetáculos do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê.

Há pai que raramente vê seu próprio filho. Marido que nunca viu a mulher.

Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. E é exatamente por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

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